Resgate de animais silvestres no Brasil, histórias de sucesso

Já imaginou uma ave que depende exclusivamente do bico para se alimentar, tentar sobreviver sem ele?
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Resgate de animais silvestres, compromisso com a preservação da diversidade e o equilíbrio da natureza

Já imaginou uma ave que depende exclusivamente do bico para se alimentar, tentar sobreviver sem ele? 

Esse poderia ser o fim da maritaca que vivia separada do seu grupo, em uma goiabeira, em um sítio na região de Barretos, esperando que os frutos ficassem moles para lamber e se alimentar. Mas, essa história estava prestes a ter um novo e surpreendente desfecho.

A nova chance de vida, com a qualidade e liberdade que a maritaca havia perdido, surgiu quando a ave foi resgatada e levada até o consultório da zootecnista e veterinária, Maria Ângela Panelli. Na época, o destino de animais assim, com poucas chances de sobreviver, era a eutanásia, mas a profissional não se conformou com esse caminho. Começou, então, a buscar soluções e encontrou nas próteses, com recursos odontológicos, uma esperança.

O que poderia ser o fim para a ave, marcou o começo de uma grande história de transformação na vida da profissional e dos animais silvestres. Maria Ângela se especializou na construção de próteses para substituir bicos e membros. “No começo, foram muitos testes sem sucesso. O Hospital do Amor, daqui de Barretos, disponibilizou todo o sistema 3D e fez as primeiras próteses pra mim. Mas ainda tínhamos um desafio: a fixação. Mesmo usando parafuso, adesivo e pino cirúrgico, a prótese não segurava mais que uma semana. Foi então que desenvolvemos a técnica que usamos atualmente, que eu chamo de moldagem in loco. Preparamos a área receptora, deixando ela mais rugosa, colocamos pinos e tela de titânio e moldamos a resina acrílica no local”, relata Maria Ângela.

A história da maritaca sem bico marcou a vida da profissional e de lá para cá cerca de 3.000 animais silvestres ganharam uma nova chance de viver. “Eu creio que tudo isso é possível porque antes de ser veterinária, eu amo os bichos. Eu não aguentava ver aquela ave olhando pra mim como quem pede socorro. Eu sabia que ela só precisava conseguir comer para viver, então falei: vamos tentar ajudar. Pedi à Polícia Ambiental se eu poderia usar os meus conhecimentos em ortopedia para cães e gatos pra tentar salvar aqueles animais silvestres. Com a autorização deles, muitos bichos foram reabilitados”.

A importância da continuidade das espécies para o equilíbrio do planeta

Na vasta tapeçaria da vida selvagem, cada criatura desempenha um papel essencial na teia da ecologia. Porém, muitas vezes, esses seres encontram-se em perigo, vítimas da degradação ambiental, do tráfico ilegal e de outras interferências humanas. Por isso, o trabalho de resgate e reabilitação é tão importante. Cada processo representa uma segunda chance, uma oportunidade de recuperar a saúde, a liberdade dos indivíduos, o equilíbrio e a sustentabilidade de um ecossistema inteiro. “Todo animal silvestre é um banco genético, e se ele não pode voltar para a natureza isso reduz as chances de continuidade daquela espécie. Então, se o animal está em condições saudáveis para se reproduzir, mesmo que use uma prótese, ele ainda pode cumprir seu papel gerando filhotes”, relata Samuel Maria, ambientalista.

Samuel, que já resgatou mais de 2 mil animais nos últimos 10 anos, também se dedica ao trabalho de educação ambiental em escolas. Ele acredita que ampliar a conscientização é um caminho para um futuro mais sustentável para todos. “Ensino coisas simples para as crianças, mas que fazem toda a diferença. Um exemplo é ‘não jogue sal no sapo’, ele respira pela pele”, orienta.

Quando um animal é reabilitado e devolvido à natureza, ele pode contribuir para o fortalecimento de populações em perigo, regular a cadeia alimentar ou até mesmo influenciar a estrutura de ecossistemas complexos. “Recentemente fui chamado para fazer o resgate de 3 serpentes, duas jibóias e uma muçurana, em uma chácara. A família estava preocupada e não entendia como elas estavam próximas da casa, mas a explicação estava na forma como eles armazenavam a ração dos cachorros. Ela ficava exposta e atraía ratos, que são o prato favorito das cobras. Também atraía baratas, que são a principal refeição dos escorpiões. Muitas pessoas pensam que tem que matar esses animais peçonhentos, pensam que eles não servem para nada e não é verdade. Cada cobra morta impacta em 700 ratos a mais em um ano, isso é um dado estatístico”.

O desequilíbrio pode afetar até mesmo o desenvolvimento da ciência. “As cobras venenosas têm sido fundamentais para o desenvolvimento de alguns medicamentos. Do veneno da cascavel é produzida uma cola cirúrgica muito potente e um remédio mais forte que a morfina. E do veneno da jararaca é retirada uma enzima para a produção do Captopril, um medicamento para o tratamento de hipertensão arterial”, explica o ambientalista.

Como a sociedade pode contribuir com a preservação das espécies?

O resgate de animais silvestres é um chamado para ação. Um lembrete de que somos coabitantes deste planeta e que temos a responsabilidade de proteger e preservar as espécies que compartilham conosco este lar.
Mas, para colaborar com essa missão coletiva, a comunidade precisa saber que: ao identificar um animal silvestre atropelado ou em condições de perigo, deve ser acionado um órgão competente, porque a segurança do ser humano vem em primeiro lugar e essa medida também ajuda no resgate correto. Pode ser a Polícia Ambiental ou o Corpo de Bombeiros, e se não tiver os dois, pode ser acionado um veterinário que tenha conhecimento nesse tipo de atendimento.
“Outro problema de tentar realizar o resgate sem ajuda especializada é a falta de conhecimento sobre o animal silvestre. É muito comum acharem filhotes de coruja e levarem para casa, como um pet. Além de ser ilegal, geralmente provoca a morte da ave. As pessoas costumam alimentar o filhote com sementes ou papinha de fubá, mas a coruja é carnívora. Depois de uma semana eles percebem que o filhote está doente e procuram ajuda, mas nem sempre é possível salvar o animal”, descreve Samuel.
O IBAMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, possui 24 centros de triagem de animais silvestres no país. Esses locais recebem animais apreendidos, resgatados ou entregues espontaneamente pela população para avaliação, tratamento, reabilitação e devolução à natureza ou envio para abrigos. Por ano, cerca de 50 mil animais passam pelas unidades do Ibama, a maioria aves.
Esses seres diversos e singulares são embaixadores da natureza. Ao resgatar um animal silvestre, estendemos uma mão solidária a um companheiro de jornada neste vasto planeta, cumprindo uma parte importante da nossa missão como espécie humana: preservar o mundo e colaborar para a continuidade e sustentabilidade das próximas gerações.

*Este conteúdo pertence a Sicredi Aliança PR/SP, que apoia projetos sociais em prol do crescimento social. Saiba mais sobre nós aqui.

O resgate de animais silvestres é um chamado para ação. Um lembrete de que somos coabitantes deste planeta e que temos a responsabilidade de proteger e preservar as espécies que compartilham conosco este lar.

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