Sistema B Brasil: os desafios dos empreendedores sociais no setor

Empreendedor de impacto e co-fundador do Sistema B Brasil destaca o papel de empresas que usam a sua força para resolver pro...

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Sistema B Brasil: os desafios dos empreendedores sociais no setor

Empreendedor de impacto e co-fundador do Sistema B Brasil destaca o papel de empresas que usam a sua força para resolver problemas sociais e ambientais complexos

Empreendedor de impacto e uma das lideranças do movimento global que busca redefinir sucesso na economia, Marcel Fukayama é co-fundador do Sistema B Brasil e diretor-executivo do Sistema B Internacional. 

O movimento global cria ferramentas para acelerar uma mudança de cultura empresarial, global e histórica. Utiliza a força do mercado para construir uma nova economia mais inclusiva e equitativa. 

Com essa visão, 3,5 mil Empresas B certificadas em 70 países atuam com objetivo comum: “redefinir sucesso na economia para considerar não apenas êxito o financeiro, mas também o bem-estar das pessoas, da sociedade, do nosso planeta”, diz.

Co-fundador da Din4mo, uma das Empresas B Certificadas que possuem o objetivo de fortalecer empreendedores que resolvem problemas sociais, Fukyama é formado em Administração de Empresas, com MBA e mestrado em administração pública pela London School of Economics and Political Science. 

Em entrevista para o ColaboreSe, ele destacou os desafios e as oportunidades de empreendedores sociais e a importância das empresas para implementação da Agenda 2030, com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Confira a entrevista na íntegra:

Quantas Empresas B temos no Brasil? Há espaço e potencial de crescimento para o setor no país?

No Brasil, são 180 Empresas B certificadas e mais de 5,8 mil usando a avaliação de impacto B, a nossa ferramenta de medição, para medir, gerenciar e reportar o seu impacto. 

Uma Empresa B é a combinação de três elementos: 

  • Propósito: gerar impacto social e inventário positivo no curso da sua atividade econômica lucrativa
  • Responsabilidade: com os stakeholders na sua cadeia de valor, para considerá-los na tomada de decisão no curto e no longo prazo
  • Transparência: compromisso com a transparência, ao medir e reportar o seu triplo impacto: compromisso com a transparência, ao medir e reportar o seu triplo impacto

Hoje, 70% das Empresas B no Brasil são empresas de serviços e mais de 90% são empresas de até US$ 10 milhões de faturamento por ano. São empresas pequenas, mas que já nasceram com o chip para a geração de impacto positivo. 

Nos últimos anos, principalmente nos últimos cinco, depois da certificação da Natura como a primeira empresa de capital aberto no mundo a ser Empresa B, e uma das primeiras em bem de consumo no país, a gente vem experimentando a adesão de muitas empresas grandes, multinacionais de capital aberto e também de serviços para o consumidor e de bens de consumo. 

Esse potencial é gigante pra gente poder engajar o stakeholder chave, que é o consumidor.

Qual o papel do consumidor na transformação das marcas e crescimento de empresas mais conscientes?

O consumidor é um stakeholder fundamental na criação de uma economia de impacto positivo. 

De um lado, o Sistema B trabalha na oferta dessa nova economia. As empresas criando as ofertas para esse novo perfil de consumo. E do outro lado, tem a demanda. 

Os consumidores experimentando uma nova vivência, uma experiência de consumo mais consciente, mais responsável. Esse consumidor, que está cada vez mais informado, mais consciente da sua responsabilidade no ciclo de consumo, está buscando cada vez mais empresas que tenham o comportamento de uma Empresa B, ou que seja uma Empresa B. 

Um empresa que atue com propósito, responsa-
bilidade e transparência.

O grande desafio do consumidor é que a grande maioria é extremamente sensível ao preço.

Então, nós precisamos, de alguma maneira, não só ter um diálogo numa linguagem mais acessível a esse consumidor, mas também que esse Mainstream [fluxo principal] do consumidor tenha acesso a opções de produtos e serviços responsáveis e conscientes de uma maneira mais acessível. 

Porque, hoje, o preço que internaliza os custos sociais e ambientais do processo de produção e consumo, naturalmente vai resultar em um produto mais caro. Então, como nós engajamos o consumidor nesse processo em que é um ator fundamental, ainda é uma grande questão a ser tratada e aprofundada.

Quais os principais desafios que empreendedores sociais e empresas com impacto positivo enfrentam ainda hoje?

É importante diferenciar os empreendedores sociais e as empresas com impacto positivo. Empreendedor social é todo aquele que cria um empreendimento, seja uma ONG ou uma empresa, para resolver um problema social ou ambiental. 

Alguns desses empreendedores utilizam a força do seu negócio e a força de um mercado para resolver problemas sociais ou ambientais, dentro do seu modelo de negócio e começam a gerar impacto positivo

Acho que o desafio das empresas com impacto positivo é que elas são uma nova geração de empreendimentos. Saíram daquela velha lógica datada de um lado ganhar dinheiro e, do outro, compensar o impacto negativo causado na geração do lucro.

Elas são uma nova geração que não só neutraliza o impacto negativo, como passa a gerar impacto positivo. Essa nova geração tem um desafio de conseguir alcançar um patamar de impacto em escala, que traga sustentabilidade para seu empreendimento. 

Consiga ter métricas que sejam comparáveis, verificáveis e críveis para poder comprovar a sua intencionalidade, o seu compromisso e as suas ações concretas para geração de impacto positivo. 

O principal desafio está sempre em duas palavras, tanto para o empreendedor quanto para a empresa: gestão e governança. Gestão para que essa empresa tenha ferramentas que meçam o seu impacto, com o mesmo rigor que merece o lucro; governança para alinhar os interesses desses negócios com os interesses da sociedade.

Conceitos como capitalismo consciente e propósito das marcas ganharam força durante a pandemia do novo coronavírus. Esse movimento veio para ficar?

Durante a pandemia, se evidenciou que negócios e investimentos com mais propósito ou com uma abordagem social e mental mais clara tiveram uma performance melhor do que investimentos e empresas até então convencionais. Isso mostra que essas empresas ganham mais resiliência em meio a crise. 

Elas ampliam o seu capital social, o tecido social em que essa empresa está inserida; ampliam o empoderamento, alinhamento, a sinergia com a sua cadeia de valor, que inclui também investidores, mas também colaboradores, fornecedores e consumidores; conseguem convergir a sua cadeia de valor em torno de um propósito claro e definido. 

A gente observa vários casos durante a pandemia, nesse sentido. Um exemplo é a Natura, que é a maior compradora de álcool orgânico do mundo. 

Rapidamente, para responder à crise, a empresa de cosméticos, que não fabrica álcool em gel, dada a escassez do produto no mercado, passou a distribuir sabonetes para comunidades mais vulneráveis e passou a produzir álcool em gel na sua planta [indústria]. 

Isso só foi possível porque a empresa conseguiu um alinhamento com a sua cadeia de valor, que é natural. Não foi feita por conta da pandemia. É um processo que vem sendo construído há anos, há décadas, no caso dessa empresa. 

Com isso a empresa consegue construir mais resiliência para enfrentar situações de crise como a que a gente vive. Então, conceitos como esse do propósito no ambiente de trabalho, na cadeia de valor e no modelo de negócio, sem dúvida, mostram que a empresa pode gerar mais resultado, no longo prazo, e mais resiliência em momentos de crise.

Quais os principais diferenciais que empresas e empreendedores deverão buscar no pós-pandemia?

Acho que o principal diferencial é uma grande transformação cultural. De que a gente pode usar os negócios para resolver problemas socioambientais. Não dá para esperar que as ações de governos e a filantropia combinada vão resolver tudo isso. 

Nós temos que implementar a Agenda 2030, dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que custam, por ano, US$ 2,5 trilhões em mercados emergentes como o Brasil. 

É irreal acreditar que governos e filantropia serão suficientes. Nós precisamos que as empresas protagonizem essa agenda. Essa é a primeira mudança cultural que precisa ter, de que a força do mercado pode protagonizar a construção de uma nova economia mais inclusiva e regenerativa. 

A segunda mudança passa pela cultura digital nas empresas. Aquelas que desenvolveram uma cultura digital antes da pandemia, com certeza enfrentaram essa crise em um outro patamar de responsividade, capacidade de endereçar, tratar e responder a essa crise na sua cadeia de valor; entre colaboradores, fornecedores e consumidores.

Que empresas estão implementando esses desafios com sucesso?

A transformação digital mostrou que empresas que enfrentaram esse desafio antes, tiveram êxito melhor, como exemplo o Magazine Luiza e a Gerdau que prosperaram mais nesse processo. 

A Magazine Luiza — ou Magalu — teve um aumento de 40% nas vendas no meio da pandemia, sem demitir nenhum colaborador, e com mais de 1.150 lojas fechadas. 

É uma empresa que passou por uma grande transformação digital. Saiu do varejo convencional para a criação de um grande marketplace, um ecossistema digital. Com isso, a empresa mostra o seu diferencial, estando mais preparada para enfrentar o mundo pós-pandemia. 

A transformação cultural, seja em torno do propósito de gerar impacto positivo ou digital, mostra que essas empresas podem ganhar mais responsividade e mais resiliência para enfrentar crises e cenários na pós-pandemia.

*Este conteúdo pertence ao Sicredi Aliança PR/SP, que apoia projetos sociais em prol do crescimento social. Saiba mais sobre nós aqui.

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