Clube do Artesanato Morroagudense: desenvolvimento feminino chega à cidade

Associação Clube do Artesanato Morroagudense promove trabalho de desenvolvimento feminino que engaja mulheres e muda histórias

Em Morro Agudo, inte...

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Clube do Artesanato Morroagudense: desenvolvimento feminino chega à cidade

Associação Clube do Artesanato Morroagudense promove trabalho de desenvolvimento feminino que engaja mulheres e muda histórias

Em Morro Agudo, interior de São Paulo, pode-se encontrar um mar de cana. Com isso, é muito difícil que outras formas de geração de renda ganhem força e consigam respaldo. Porém, a cidade começou a ser reconhecida não apenas pelo que produz na terra, mas também por seu Clube do Artesanato.

Mas, desde a implementação desta iniciativa, a colheita do artesanato tem sido farta e vem promovendo o desenvolvimento feminino da região.

 

A cientista social, Angélica Gibello, foi quem viu além das lavouras. Ela é assessora de projetos municipais e buscava algum segmento para impulsionar.

“Comecei a ver algumas postagens de mulheres vendendo seus artesanatos e pensei que seria um bom público para começar o trabalho”, descreve Angélica.

Um chamado pelo Facebook reverberou e quase 70 mulheres compareceram ao primeiro encontro — que seria o embrião da Associação Clube do Artesanato Morroagudense.

Angélica tinha um desejo bem claro: mostrar o valor que essas mulheres empreendedoras e os trabalhos delas têm, ou seja, proporcionar um verdadeiro desenvolvimento feminino.

Mais de 70% do município é ocupado por canaviais

A missão então foi convocar mulheres que faziam os mais diferentes tipos de artesanato para que elas pudessem se reunir, trocar experiências, aprender novas técnicas e como empreender na área, garantindo uma fonte de renda para a família.

Em março de 2020, 38 mulheres foram às ruas e participaram da primeira feira de artesanato. Foi o primeiro passo para que elas entendessem que suas habilidades merecem aplausos e pagamento justo.

“Vendemos 950 peças e as artesãs receberam R$ 17 mil! Elas passaram a compreender que dá para fazer artesanato e ter respeito. Muitas pegaram encomendas até outubro daquele ano e começaram a ficar conhecidas”, reforça Angélica.

Logo depois da feira, veio a pandemia, o lockdown e todo o distanciamento social. Poderia ser um empecilho para o Clube do Artesanato, mas o trabalho online fortaleceu a iniciativa, que chegou a ter mais de 100 adeptas.

Mesmo estando em casa, todas puderam entender os objetivos no desenvolvimento feminino e da valorização de seus trabalhos. Cursos de fotografia, marketing digital e precificação são alguns dos exemplos de formação que o grupo recebeu. Foram mais de 200 horas de cursos!

Da brincadeira de criança para o Clube do Artesanato

Em uma infância de poucas oportunidades, Eli Braga abraçou o mínimo que tinha. A única boneca que fazia parte de suas brincadeiras era uma fonte inesgotável para a criatividade.

As roupas da família que não serviam mais viravam retalhos que, unidos, iam formando as novas roupas do brinquedo.

O incentivo ofereceu a Elis uma profissão.

Porém, sua habilidade com as mãos ia mais longe: a boneca tinha até móveis em sua casinha. “Eu criava as peças com caixas de fósforo, encapava com papel de presente e colocava com cola feita de farinha de trigo e água”, conta.

Na pré-adolescência, veio um incentivo para continuar estimulando o seu dom: a esposa do tio faleceu e ele trouxe para a sobrinha revistas, linhas e agulhas que eram dela. “Aqui para você brincar”, disse o tio.

Elis brincou, mas foi além, aproveitando o material para aprender mais e mais. “Aprendi a bordar somente lendo as revistas. As pessoas ao meu redor percebiam o quanto eu gostava e foram me dando mais revistas”, relata.

O incentivo ofereceu a ela uma profissão. Casada e mãe de três filhos, orgulha-se de seu ateliê em um dos cômodos da casa. Ela está na Associação Clube do Artesanato desde o início das atividades e ganhou um novo rumo a partir dos aprendizados.

Eli já está organizando tudo para iniciar os trabalhos em sua empresa — Refazendo Moda — focada em moda bebê com peças únicas feitas de retalhos e outras técnicas de artesanato.

A profissão veio antes da brincadeira

A mãe de Gisele Pimenta não gostava muito dessa história de brincadeiras na rua. No tempo livre, preferia que a filha estivesse ocupando a cabeça aprendendo e por isso, buscou aulas de artesanato.

A primeira arte feita por suas mãos, aos 9 anos, foi o ponto cruz. “Eu ficava nervosa com aquilo, porque queria estar brincando, mas eu era focada e me concentrava. Assim, comecei a me apaixonar”, confessa.

Logo começou a usar o aprendizado em benefício próprio: ela fazia faixas de cabelo bordadas com nomes e vendia para as amigas da escola. Cada uma rendia R$ 0,50 e dava para a menina garantir o lanche do dia.

O pulso mais firme da mãe, de certa forma, conseguiu deixar uma herança que a filha carrega até hoje. Quando Gisele tinha 13 anos, a mãe faleceu.

“O artesanato salva, cura. Foi no que eu me agarrei para que não caísse em depressão”, revela.

Pouco depois da perda, aos 14 anos, já estava casada. Nessas mais de duas décadas que se passaram, constituiu família e se aperfeiçoou ainda mais em sua arte. Hoje, borda chinelos, chapéus de praia e também faz bordado eletrônico.

Ela acreditou na proposta do Clube do Artesanato desde o início e se aproveitou de todas as oportunidades oferecidas. “Hoje, tenho orgulho em falar que 100% do que ganho vem do artesanato”, comemora.

Gisele pode ser mencionada como mais um exemplo de desenvolvimento feminino dentro do artesanato!

Novos trâmites e novos passos

A distância não inviabilizou muitas ações da Associação Clube do Artesanato e o período em casa foi usado para que as artesãs encorpassem os seus trabalhos.

Para ampará-las, em março de 2021, foi aprovado na Câmara de Vereadores o projeto de lei que institui o Programa Municipal do Artesanato Morroagudense, para desenvolver e promover o artesanato como instrumento de trabalho e empreendedorismo.

Em outubro de 2021, veio a formalização como Associação e junto disso o site e, alguns meses depois, ganharam uma sala para mostrar o trabalho desenvolvido ao público e oferecer oficinas, chamado de Espaço de Acolhimento e Comercialização do Clube do Artesanato Morroagudense.

“Primeiro a gente acolhe. A comercialização é uma consequência”, enfatiza Angélica.

A cientista social confessa que não sabe fazer artesanato algum, mas, mesmo que suas mãos não toquem os materiais, ela não se exime da função de buscar coisas novas para inserir no portfólio das artesãs.

Um dos exemplos é o pano de cera, algo bastante utilizado fora do Brasil, que substitui o plástico filme e presta um baita serviço ao meio ambiente.

Com tanta cana-de-açúcar ao redor, o Clube do Artesanato Morroagudense não poderia deixar de lado essa parte importante da identidade local.

Por isso, um dos carros-chefes do Clube do Artesanato é o licor de rapadura. Se já não bastasse ser feito do ingrediente mais abundante da região, a garrafa também é decorada com o bagaço da cana-de-açúcar.

“Não quero que elas vendam o que todo mundo já vende. Quero mostrar que tudo o que cai na nossa mão vira arte. E o trabalho se torna uma importante ferramenta de cultura e fomento ao turismo”, destaca Angélica.

“Primeiro a gente acolhe. A comercialização é uma consequência”

Marina Figueiredo é artesã alimentícia e também queria aproveitar a vocação local para criar um prato novo. Com a mão boa para doces, decidiu tentar fazer um brigadeiro de cana, mas a receita desandou.

Na primeira olhada, ela ficou chateada, porém, percebeu que o erro poderia virar uma invenção: se apurasse mais um pouquinho, chegaria no ponto de bala. Então, foi criada uma bala de cana- de-açúcar, mais um dos produtos queridinhos.

Quem a vê hoje, feliz da vida, com vários produtos e ajudando de forma voluntária o espaço do Clube, nem imagina o quanto a depressão arrancou o seu sorriso depois do início da pandemia.

“Eu tentei suicídio. Estava no fundo do poço”, conta. Com a mente doente, a internet era a válvula de escape e um feixe de luz começou a aparecer no caminho, ao encontrar o Clube do Artesanato.

“Depois que eu entrei no grupo, fiz os cursos, abri minha cabeça, aprendi a tirar foto, postar no Instagram. Hoje, eu consigo ganhar duas ou até três vezes mais do que eu ganhava quando era assalariada”, celebra.

“Hoje, eu consigo ganhar duas ou até três vezes mais”

Desenvolvimento feminino: resultados para todas!

A sororidade é um dos valores do projeto e isso não fica restrito aos limites do Clube do Artesanato. O cuidado com as mulheres tem chegado a outras cidades, com o “Marias vão com as outras”, uma iniciativa que ajuda a potencializar outros trabalhos femininos.

“Fizemos, por exemplo, um atendimento presencial em Frutal, Minas Gerais e estamos, inclusive, vendendo os produtos delas aqui. Também realizamos ações online”, expõe Angélica.

As oficinas são mais um passo que já contempla mais de 30 pessoas. O público é composto por todas as idades, com vulnerabilidade financeira e emocional. Ponto cruz, crochê, bordado livre, artesanato educacional e pedrarias são alguns métodos ensinados pelas artesãs do Clube, de forma voluntária.

“O grupo me ajudou a me colocar no eixo”

Hoje, 30 mulheres estão associadas e quase todas têm CNPJ. Artesanato que traz renda e que também ajuda a curar: sete artesãs foram diagnosticadas com depressão e, agora, quatro delas já receberam alta médica.

Entre as participantes, 16 montaram seus ateliês em algum cantinho de casa e duas delas abriram as portas dos seus próprios negócios.

Atualmente, 66% delas conseguem complementar a renda familiar com trabalhos manuais. “Tem coisas que não consigo te explicar por meio de gráficos ou de números, são valores que essas mulheres estão vivendo. Na cabeça delas, isso era inimaginável. Elas vendem propósito, e isso não se negocia, você tem que viver”, encerra Angélica.

Encantamento à primeira vista

É impossível entrar no espaço do Clube do Artesanato e não se encantar. E com o presidente da Sicredi Aliança, Adolfo Freitag, não foi diferente.

Ele ficou impressionado com o que as mulheres são capazes de fazer. De lá, já saiu a ideia do kit que os participantes da Reunião de Unidade Administrativa receberiam neste mês: tudo será feito pelas mãos das artesãs de Morro Agudo.

Essa é uma forma de valorizar o trabalho e o município, que é sede de uma das unidades da cooperativa!

Uma forma de valorizar o trabalho e o município

*Este conteúdo pertence ao Sicredi Aliança PR/SP, que apoia projetos sociais em prol do crescimento social. Saiba mais sobre nós aqui.

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