Sistema B: iniciativa auxilia empresas na adoção de práticas socioambientais

Práticas socioambientais estão mais comuns dentro das empresas e entre consumidores, mas só isso não é mais suficiente e nesse contexto, sur...

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Sistema B: iniciativa auxilia empresas na adoção de práticas socioambientais

Práticas socioambientais estão mais comuns dentro das empresas e entre consumidores, mas só isso não é mais suficiente e nesse contexto, surge o Sistema B

Neste cenário, para alcançar uma transformação sistêmica e significativa no seu papel no mundo, é necessário que as empresas façam ainda mais. O Sistema B é um exemplo de iniciativa para auxiliá-las a adotarem melhores práticas socioambientais e processos de melhoria contínua.

O ColaboreSe conversou com Tomás de Lara — membro do conselho deliberativo do Sistema B Brasil — sobre o movimento, seus objetivos e o que ele considera fundamental para o mundo alcançar a transformação necessária na economia. Confira a entrevista:

Como surgiu o Sistema B?

O Movimento de Empresas B começou em 2006, nos Estados Unidos, com uma organização chamada B Lab. O propósito era ajudar empresas a adotarem melhores práticas socioambientais e, assim, passar por um processo de melhoria contínua a partir da Certificação B.

A ideia era formar um grupo de empresas referências em sustentabilidade para que, por meio de uma ferramenta on-line — a Avaliação de Impacto B —, pudessem conhecer as boas práticas socioambientais que são feitas em diferentes setores ao redor do mundo. Com isso, começaria um caminho de compromisso e de melhoria contínua.
Em 2012, o B Lab, em parceria com quatro cofundadores da América Latina, foi para a Argentina e o Chile, e lá se estabeleceu. Logo depois, veio para o Brasil e a Colômbia, e depois foi se espalhando pelo mundo. Hoje, temos escritórios em onze países na América Latina.

A ideia era formar um grupo de empresas referências em sustentabilidade para que, por meio de uma ferramenta on-line — a Avaliação de Impacto B —, pudessem conhecer as boas práticas socioambientais que são feitas em diferentes setores ao redor do mundo. Com isso, começaria um caminho de compromisso e de melhoria contínua.

Em 2012, o B Lab, em parceria com quatro cofundadores da América Latina, foi para a Argentina e o Chile, e lá se estabeleceu. Logo depois, veio para o Brasil e a Colômbia, e depois foi se espalhando pelo mundo. Hoje, temos escritórios em onze países na América Latina.

O Movimento de Empresas B começou em 2006

Você pode explicar o que é o Sistema B?

O Sistema B é o movimento de pessoas que acreditam que os negócios possam servir como força de transformação positiva, e também num novo sistema econômico, que seja inclusivo, equitativo e regenerativo.

Falamos muito do tripé da sustentabilidade, ou seja, econômico, social e ambiental. E o Movimento B tem a missão de fazer com que as empresas sejam forças de transformação positiva, trabalhando a partir dessa lógica.

Qual foi o primeiro contato que você teve com o Sistema B?

Meu primeiro contato com o Sistema B foi há aproximadamente nove anos, quando assisti à palestra On Better Business, de Jay Coen Gilbert, um dos fundadores do Movimento B, a respeito de melhores negócios para a sociedade, em uma edição do TED.

Nela, ele apresenta o movimento e fala de como os negócios podem servir de força para uma transformação positiva. Naquele momento, eu tinha acabado de concluir uma especialização na Schumacher College, uma escola de economia sustentável que integra economia e ecologia em um único pensamento: o sistêmico.

Fiquei muito motivado com essa formação e, assistindo à palestra, concluí que esse era o caminho: quando conseguimos fazer com que as empresas sejam força de transformação positiva, elas trazem as mudanças que precisamos na área socioambiental.

Alguns meses depois, o Movimento B chegou ao Brasil — em São Paulo — onde participei da seleção para diretor executivo. Fiquei entre os finalistas, mas não fui escolhido.

Quem entrou foi a Julia Maggion, que foi a primeira diretora executiva do Sistema B no Brasil, e me chamou para participar. Comecei como voluntário, com a missão de expandir o movimento para o Rio de Janeiro por meio de palestras e das primeiras conversas com empresários.

O que fez você acreditar nesse sistema?

Foi justamente a questão central com a qual o Movimento B trabalha, que é usar a força dos negócios como força de transformação positiva.

Por ser administrador de empresas, tenho uma boa noção de como elas, o mercado financeiro e a economia global funcionam e, por isso, sempre achei que, se as empresas não fossem envolvidas no processo, nós não conseguiríamos atingir a transformação que precisamos.

Também acreditei no sistema desde o início por entender o rigor e a profundidade da Certificação B. Esse é um processo que toda Empresa B tem que passar para comprovar suas boas práticas sociais e ambientais e incluir a cláusula B no seu contrato social.

Além de colocar em termos legais que ela está buscando atender os interesses das diferentes partes, não só os shareholders, mas também os stakeholders, ou seja, a ampliação da responsabilidade socioambiental da empresa.

Isso me fez acreditar que esse movimento é muito sério e que as Empresas B assumem um compromisso muito profundo com essa mudança sistêmica para um impacto positivo.

“Usar a força dos negócios como força de transformação positiva”

Qual o cenário atual do Sistema B no Brasil? É algo que está popularizado, avançando ou ainda está no começo?

No Brasil, estamos chegando a 230 Empresas B certificadas em mais de dez estados e também temos multiplicadores B nessas regiões. São pessoas que acompanham o movimento há bastante tempo, que estudaram as Empresas B, que conhecem a ferramenta de avaliação de impacto B — as que levam à certificação e possibilitam fazer uma gestão estratégica para a sustentabilidade.

Hoje, temos mais de 150 multiplicadores B que dão aulas, palestras, ajudam as empresas a se certificar, acadêmicos B — que levam essa mudança para as universidades, onde são formados profissionais que trabalham pelo impacto positivo. Temos também um grupo jurídico B que colabora na formação de legislações federal, estadual e municipal, em favor de negócios de impacto positivo.

O que está sendo feito para a expandir o impacto do Sistema B?

O Brasil tem a ENIMPACTO, que é uma política nacional para fomentar negócios de impacto positivo, e que está se desdobrando em muitos estados. Aqui no Rio, temos a Política Estadual de Investimentos e Negócios de Impacto Social.

Esses marcos legais que fomentam negócios de impacto positivo estão evoluindo, não só no Brasil mas no mundo todo.

O cenário é muito favorável. Vemos a sigla ESG — Environmental, Social and Governance —, ou a ASG — em português, ambiental, social e governança —, já tomando o noticiário, assim como grandes bancos e agências de investimento de mercados capitais falando sobre essa mentalidade, diversos fundos de investimento usando o termo ASG, o que mostra que o mercado está acompanhando as mudanças, e que esse é o futuro dos negócios de fato.

Além disso, já vemos grandes empresas usando a avaliação de impacto B, e também grandes empresas certificadas como Empresas B.

A Natura, por exemplo, foi a primeira Empresa B de capital aberto a se certificar há mais de 4 anos; assim como a Movida, empresa de aluguel de carros presente em todo Brasil.

Empresas globais como a Danone, estão se certificando em diferentes países e com operações certificadas também no Brasil. Temos a convicção de que essa ampliação é um caminho que não tem volta.

Acredita que a tendência de procura pelo Sistema B é de aumento?

Sempre falamos que as empresas vão adotar boas práticas socioambientais pelo amor ou pela dor. Obviamente, a preferência é pelo amor porque é mais fácil.

Pela dor é quando o mercado já está totalmente evoluído e as empresas que não acompanham a evolução, isto é, as empresas que não adotam práticas socioambientais, desaparecem do mercado.

As que deixam para última hora para mudar de postura, acabam pagando mais para cobrir o prejuízo, ou seja, o seu valor e a sua percepção de mercado já vão estar prejudicados e assim, correm o risco de não conseguir se recuperar.

Cedo ou tarde, todas empresas vão ter que amadurecer em relação aos benefícios que as ações socioambientais trazem para a sociedade e o meio ambiente. Por sinal, quase me esqueci de falar, o B de Empresas B, é de benefício.

É possível um mundo no qual todas as empresas sigam as ideias do Sistema B?

Não acreditamos que todas as empresas serão B, mas queremos alcançar um número expressivo.

Hoje, segundo o Banco Mundial, existem 120 milhões de empresas no mundo. Imagine 200 ou 500 mil Empresas B. Elas seriam líderes em todos os setores em termos de boas práticas de responsabilidade social e ambiental, sendo as que “puxariam a barra para cima” no que é ser B — pensando no B de benefícios, da comprovação de que a empresa está gerando benefícios sociais e ambientais e boas práticas de governança.

Quando chegarmos a um número significativo, teremos certeza de que melhoramos muito o sistema econômico, consolidando uma lógica de mercado a serviço do bem comum.

Hoje, estamos com mais de 4.200 Empresas B em 77 países. No Brasil, ainda neste ano, devemos alcançar 250 Empresas B certificadas, que são líderes e influenciadoras, e mostram o caminho que leva ao futuro dos negócios, que é a geração de valor integral — não só o valor econômico, mas também, o socioambiental.

Qual seria então um “mundo ideal”?

O mundo ideal seria com cerca de 500 mil Empresas B e outras que também causassem impacto positivo, como cooperativas e empresas que destinem parte do lucro para melhorias da sociedade — lucro esse, que tenha origem em boas práticas socioambientais.

Nesse mundo ideal também temos ONGs — que são fortes e apoiam as empresas — e governos federais, estaduais e municipais, que trabalham em profunda colaboração com ONGs bem geridas e com gestão pública que fomenta e incentiva as empresas a gerarem impacto positivo.

Universidades que formam para o mercado de trabalho, profissionais conscientes e que tenham um cuidado com o impacto socioambiental; que os cidadãos tenham consciência de que a cidade é o resultado de suas decisões no dia a dia. Sociedade que gera valor para a sociedade.

Cidadão somos todas e todos, ou seja, gestores públicos, artistas, empreendedores, investidores, todos são responsáveis por construir um futuro melhor. E não podemos esquecer dos consumidores, que também devem ser cada vez mais conscientes e, obviamente, as empresas, que possam criar produtos e serviços que sejam cada vez mais sustentáveis e acessíveis para todos.

Como o Sistema B se relaciona com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU?

O Sistema B se relaciona diretamente com os ODS da ONU, inclusive, com o Pacto Global, que é o braço global da ONU para trabalhar esses objetivos junto às empresas.

O Movimento B, em parceria com o Pacto Global, criou uma plataforma on-line, a SDG Action Manager, que é de uso gratuito e serve para qualquer empresa, de qualquer tamanho e setor, conhecer os ODS que são relativos e inerentes ao seu modelo de negócio.

Por meio da plataforma, a empresa conhece até três ODS nos quais pode atuar, e encontra possíveis ações para eles.

Não acreditamos que todas as empresas serão B

O sistema B está 100% integrado aos ODS, e eles nos ajudam a direcionar novas parcerias e novas iniciativas, como o próprio Cidades+B, que é um projeto que co-liderou no âmbito internacional e trabalha de modo intenso com os ODS, estimulando municípios para trabalhar colaborativamente com Federações de Indústria, Câmaras de Comércio, Empresas Bs, ONGs, universidades e ativistas e em favor dos ODS.

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