Movimento respirar: máscaras respiratórias salvam vidas durante o Covid-19

No momento em que o simples ato de respirar se torna inviável, máscaras respiratórias e respiradores são alentos para pacientes da Covid-19 e...

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Movimento respirar: máscaras respiratórias salvam vidas durante o Covid-19

No momento em que o simples ato de respirar se torna inviável, máscaras respiratórias e respiradores são alentos para pacientes da Covid-19 e, em meio à isso, surge o Movimento Respirar

Neste momento, você está enchendo e esvaziando seus pulmões — e nem está pensando nisso, afinal, respirar é involuntário e vital.

Por mais que você não preste muita atenção quando está fazendo, tente se imaginar sem a possibilidade de respirar. Difícil e desesperador, não é?! Milhões de pessoas mundo afora sentiram — ou estão sentindo — essa horrível sensação por terem contraído o vírus da Covid-19. O ar que falta sufoca.

João Paulo Horta, de Cristalina, de Goiás, pensou que tinha passado praticamente ileso à doença, já que chegou ao 11º dia após o contágio com sintomas bem leves. Ao acordar no 12º dia, porém, veio a queda na saturação e o sentimento que ele nunca mais quer que se repita.

“A respiração estava pesada. Eu sentia que não conseguia expandir o meu pulmão”, relata. Já na reta final do isolamento, teve que ir para a Unidade de Pronto Atendimento, onde foi apresentado a um objeto que ainda era pouco conhecido, mas que garantiu sua recuperação de forma bem rápida.

“Acredito que ela fez eu me curar em poucos dias. Hoje corro 20 km por semana e não tenho nenhuma sequela. A máscara respiratória me ajudou demais”, destaca.

A tal máscara respiratória aplaudida por João Paulo é uma adaptação dos modelos snorkel, utilizadas em mergulho e que foram remodeladas para o uso em pacientes por meio de Ventilação Não Invasiva — VNI.

No meio da maior crise sanitária do século, elas se mostraram eficientes como alternativa aos respiradores tradicionais, reduzindo a necessidade de terapia respiratória invasiva, ou seja, a intubação do paciente.

Uma mente em constante criação

“Eram peças feitas em impressoras 3D”

Cada um dos mais de mil kits que chegaram a hospitais de todo o Brasil — e até aos países vizinhos — passaram pelas mãos de Alan Güttges, empresário de Marechal Cândido Rondon.

Durante quase um ano e meio, a vida dele se voltou, de forma voluntária, à busca pelo aperfeiçoamento do equipamento e pela abertura de espaços para que as máscaras respiratórias ajudassem a minimizar a lotação das UTIs abarrotadas pelo agravamento da doença.


Alan trabalhava com a revenda de produtos de estética.
Parte das compras eram feitas de fornecedores da China e, em dezembro de 2019, ele começou a perceber que algo muito impactante para o mundo estava por vir.

“Nas negociações com a China, às vezes tinha alguém me atendendo e sumia por dias, e aí eu ficava sabendo que a pessoa estava com a doença e isso começou a ficar bastante recorrente”, relembra.

O ano de 2020 chegou e com ele as tristes cenas na Itália: o desespero nas UTIs, a incapacidade para atender todos que precisavam e os caminhões com corpos empilhados atravessando as ruas silenciosas.

Alan assistiu a tudo isso, mas também se atentou às ações voluntárias que tentavam diminuir o sofrimento. “Comecei a pensar em como poderia ajudar caso a situação se repetisse no Brasil”, conta.

Em meio aos números assustadores da Itália, ele descobriu o projeto feito pela empresa Isinnova, que, por intermédio de Cristian Fracassi, criou a peça batizada de Charlotte, válvula fundamental para adaptar o equipamento para uma máscara respiratória.

“Eram peças feitas em impressoras 3D. Cheguei até os idealizadores e pedi que o projeto fosse replicado no país. Após a garantia de que não seriam visados lucros com a proposta, consegui a autorização”, explica.

Obter o aval dos inventores da proposta foi apenas o primeiro desafio. Havia ali um embrião de ideia, mas, com um sistema de saúde bem diferente da Itália, no Brasil foram necessárias muitas adequações para que a máscara respiratória pudesse ser usada.

Alan, que é formado em Administração, Marketing Internacional, Comércio Exterior e técnico em ótica, estava bem longe de ter contato com a área da saúde, mas sentia que uma ajuda vinha do céu.

“Em 2015, perdi um grande amigo, Diogo Witt. Ele era médico e muito solidário. Eu tinha um caderno, que sempre andava comigo, e eu ia escrevendo as ideias. Parecia que o meu amigo estava falando comigo. Ele foi minha inspiração”, comenta.

A homenagem a Diogo vai além das palavras: nas caixas das máscaras respiratórias, que levam esperança aos pacientes, há uma foto do jovem que, mesmo fora da vida terrena, segue levando o bem ao próximo.

A aceitação das máscaras respiratórias não foi fácil

Foram mais de 40 alas para pacientes de Covid-19 visitadas. Ao todo, foram criados 24 kits diferentes para as máscaras respiratórias, todos acompanhados de um minucioso manual de instruções, construído com a ajuda de profissionais da saúde.

“Tudo o que eu fazia, testava em mim mesmo. Chegava ao fim do dia parecendo que tinha fumado um monte de cigarros”, brinca. Além de um pulmão cansado, Alan precisou encarar muitos olhares desconfiados à proposta. “A cada 10 médicos que eu apresentava a ideia, 9 debochavam”.

Foram criados 24 kits diferentes para as máscaras respiratórias

“Muitos queriam ganhar dinheiro com a ideia e esse nunca foi o propósito”, enfatiza. Foram muitas portas na cara. Em uma das tentativas, porém, a recepção foi respeitosa e calorosa.

“O pessoal da Sicredi Aliança, por meio do Fernando Fenner, me recebeu de braços abertos, me ouviu e fez de tudo para fazer dar certo. A partir deles, as portas abriram e 90% do projeto foi financiado pelo Sicredi em todo o país”, enfatiza Alan.

O Hospital Bom Jesus, em Toledo, foi um dos primeiros a usar a máscara respiratória para o tratamentos dos pacientes. Indo na contramão dos que desacreditaram da ideia, Matheus Santana Azevedo, fisioterapeuta especialista em Fisioterapia Intensiva, começou um trabalho que rapidamente mostrou a ajuda significativa que as máscaras ofereciam em meio à pandemia.

“Começamos a solicitar ao SAMU para não intubar o paciente antes da chegada ao hospital, para que pudéssemos fazer o trabalho ventilatório para diminuir o tempo de ventilação mecânica ou não deixar que o paciente evoluísse para ventilação mecânica. Logo no início, de 10 pacientes que chegaram, 8 não foram intubados por terem usado as máscaras, ou seja, funcionou. Foi uma grande melhora. Ter ajudado nisso nos realiza como profissionais”, comemora.

O “Movimento Respirar”, nome dado ao projeto, começou a ganhar corpo e foi essencial, especialmente na segunda onda da pandemia, no início deste ano. “Acreditamos que cada um dos mais de mil kits foram usados por, pelo menos, 20 pessoas”, contabiliza.

Conforme o ritmo da vacinação avançou, a necessidade das máscaras diminuiu, e Alan começou a tirar o pé do acelerador. Ele olha para trás e destaca os anjos que apareceram pelo caminho e voluntariamente fizeram o projeto “Movimento Respirar” sair do papel.

“Algumas máscaras chegaram a outros estados com a ajuda de caminhoneiros. Eu ia de madrugada para a rodovia e, dependendo do destino do motorista, ele levava o equipamento sem cobrar nada”.

O “Movimento Respirar” começou a ganhar corpo e foi essencial

O sopro de esperança que encheu os pulmões de muita gente poderia ter sido mais forte; Alan se entristece ao lembrar que o projeto “Movimento Respirar” tinha potencial para funcionar em larga escala, mas a ganância falou mais alto — poucos quiseram enxergar o momento que o país vivia e ajudar sem esperar nada em troca.

“Fiquei muito decepcionado com o processo e com o que vi pelo caminho. O mundo está doente”, reflete.

Exausto física e mentalmente e com R$ 300 mil a menos no bolso, empenhados no projeto “Movimento Respirar”, o jovem rondonense sabe que lutou com as armas que teve em mãos.

O coração é acalentado pela frase que Oskar Schindler, empresário alemão, que usou seu dinheiro e conexões para libertar judeus de campos de concentração, em plena 2ª Guerra Mundial, carregou em seu anel: “Quem salva uma vida salva o mundo inteiro”.

Sicredi ajuda a respirar

Ao perceber que a pandemia não se tratava de algo simples e passageiro, a Sicredi Aliança começou a agir em diversas frentes. Um dos primeiros passos, em meio às incertezas do momento, foi a criação de um comitê.

“Não o chamamos de Comitê de Crise, mas, sim, Comitê de Soluções, já que era disso que precisávamos. Observamos as áreas em que deveríamos desacelerar e quais ações precisavam ser iniciadas de maneira imediata. Avaliamos o impacto local e começamos a elencar formas de ajudar a salvar vidas”, explica o diretor-executivo da Sicredi Aliança, Fernando Fenner.

Fenner se mostrou encantado com o envolvimento, a criatividade e o desejo de contribuir com o cenário complexo, demonstrados por Alan Güttges. Tornou-se, então, um parceiro que ajudou a abrir mais portas ao projeto onde havia presença do Sicredi.

“Conseguimos fazer isso usando uma tecnologia daqui, feita em nossa comunidade. É uma forma de a cooperativa retribuir tudo o que a região nos proporciona”. Parte das máscaras respiratórias foram financiadas pela cooperativa e doadas às prefeituras da região.

A segunda onda da Covid-19 deu início a uma corrida por respiradores. A partir de uma ação coordenada pela Ocepar — Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná —, a Sicredi Aliança doou dois respiradores para o município de Marechal Cândido Rondon.

“Deu tempo de tirar os equipamentos do caminhão, tirar uma foto, esterilizar e já colocar para uso; havia pessoas na fila aguardando os equipamentos. Naquele dia eu saí de lá entendendo o quanto podemos impactar e ajudar a salvar vidas”, recorda.

As experiências adquiridas até aqui evidenciam o quanto mentes criativas e mãos dispostas a ajudar são capazes de superar as dificuldades. É preciso cooperar até o último suspiro.

*Este conteúdo pertence ao Sicredi Aliança PR/SP, que apoia projetos sociais em prol do crescimento social. Saiba mais sobre nós aqui.

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