Pesquisar é mudar o mundo: jovens pesquisadoras trabalham para fazer a diferença na Agronomia

Duas jovens pesquisadoras demonstram como seus trabalhos vão fazer a diferença na área da Agronomia e na vida dos produtores rurais
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Pesquisar é mudar o mundo: jovens pesquisadoras trabalham para fazer a diferença na Agronomia

Duas jovens pesquisadoras demonstram como seus trabalhos vão fazer a diferença na área da Agronomia e na vida dos produtores rurais

As pesquisadoras Thais Boufleur e Maria Eunice Lima querem um mundo melhor e fazem a parte delas por meio da pesquisa. As duas têm várias questões em comum: são jovens, doutorandas, têm conexão com o Oeste do Paraná e são apaixonadas pelo universo da Agronomia.

A junção desses fatores está resultando em dois belos presentes à ciência: as pesquisadoras estão concluindo suas teses e os textos não serão meras publicações para deixar na gaveta, mas sim, soluções para problemas do agronegócio.

Thais tem 27 anos e nasceu na Linha Flor da Serra, interior do município de Quatro Pontes, Oeste do Paraná, onde viveu até concluir o Ensino Médio. A paixão pela biologia, natureza e agricultura foram os atrativos para que ela ingressasse no curso de Tecnologia em Biotecnologia, na Universidade Federal do Paraná (UFPR) de Palotina e, aos poucos, foi se abrindo às oportunidades.

“Estava um pouco perdida, já que a formação é bem ampla, tem muitas possibilidades de atuação. Quando eu estava no segundo ano, apareceu um estágio com um professor do curso de Agronomia. Ele trabalhava com Fitopatologia — estudo das doenças das plantas. Aí comecei a trilhar esse caminho”, comenta.

A graduação para ela era apenas o início da vida acadêmica. Thaís fez seu estágio de conclusão de curso na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) em Piracicaba, São Paulo, e, na sequência, engatou no Mestrado em Agronomia (Fitopatologia) na mesma instituição. Em 2017, veio o doutorado na mesma área.

Já Maria Eunice adotou a região Oeste do Paraná. A jovem pesquisadora de 26 anos é paraense, do município de Tailândia. Como por lá não tinha faculdade, foi para uma cidade próxima, Capitão Poço, para cursar Agronomia na Universidade Federal Rural da Amazônia.

“Durante a graduação trabalhei em laboratórios de Fisiologia Vegetal e Bioquímica, também trabalhei na área de Solos. No começo, Agronomia não era o curso dos meus sonhos, mas no segundo semestre eu já estava completamente apaixonada e não conseguia me ver fazendo outra coisa”, relembra.

Querendo dar continuidade aos estudos, começou a pesquisar Programas de Mestrado. Foi então que em suas buscas encontrou uma tal de “Marechal Cândido Rondon”.

“Nunca tinha ouvido falar na vida. Dei uma pesquisada antes e pensei ‘acho que vai dar certo’ e vim. Por algum motivo, Marechal me escolheu”, conta. Maria Eunice fez o mestrado em Agronomia pela Unioeste e nem teve descanso: no mesmo ano que entregou a dissertação, começou o doutorado também em Agronomia na mesma universidade.

Uma pesquisadora em busca da cura para a soja

Thaís é do meio rural. Ainda adolescente, via a luta dos pais para que a lavoura pudesse ser bem-sucedida. O olhar para o céu às vezes pedia chuva; outras, implorava para São Pedro dar uma trégua no aguaceiro — sem contar todos os males que podem trazer prejuízos para uma lavoura.

Era um desejo da pesquisadora, então, que pudesse no laboratório fazer algo para ajudar o pai, a mãe, os vizinhos, os produtores em geral no campo. “Participar desse processo e tentar entender o motivo de as coisas darem certo ou errado foi despertando esse interesse em mim. No final, eles serão beneficiados pelo que fazemos lá no comecinho, no laboratório”.

A graduação era apenas o início da vida acadêmica

O pimentão foi o objeto de estudo no mestrado da pesquisadora. No doutorado, porém, ela voltou as atenções para uma grande cultura: a soja. Thaís está finalizando a pesquisa sobre a antracnose da soja (PROJETO FAPESP 2017/09178-8) — uma doença causada por fungos e que pode ocasionar grandes perdas na produção.

Era uma doença que existia apenas no final do ciclo da planta. Hoje, já aparece no início do ciclo. Trabalhamos em um grupo com outros doutorandos e mestrandos, tentando entender o motivo dessa antecipação. Começamos a montar hipóteses. Estudamos cultivares que são resistentes e outros que ficam doentes, tentando compreender quais os genes responsáveis por isso”, explica Thaís.

“No campo selecionamos o cultivar, depois, vamos para o laboratório para obter o DNA e o RNA. Na sequência, essas informações vão para o computador, para um trabalho pelo qual sou apaixonada, a bioinformática. Pegamos uma sopa de letrinhas do resultado de sequenciamento genético e tentamos juntar tudo para entender o que está acontecendo”, detalha a pesquisadora.

O minucioso trabalho servirá de base depois para os programas de melhoramento da soja produzirem cultivares mais resistentes. “O produtor então poderá ter acesso à nova semente e, com isso, reduzir seu custo de produção”, complementa.

Seu doutoradosequência à pesquisa do mestrado

Usar jaleco branco era um sonho de criança para Maria Eunice. Tinha até feito vestibulares para Farmácia e Enfermagem, mas quando se decidiu pela Agronomia, acreditava que não realizaria o desejo. 

Como pesquisadora, a meta da infância se concretizou, abrindo caminho para a realização de outras. Com a vestimenta almejada, o grande intuito dela hoje é tornar a vivência entre as lavouras e as árvores nativas bem mais amistosa.

Seu doutorado dá sequência à pesquisa do mestrado. A intenção é deixar o cedro e a aroeira-vermelha, espécies de árvores nativas da região Oeste do Paraná, mais fortes para serem plantadas no campo. 

No laboratório, a pesquisadora usa um processo chamado de rustificação — como se fosse uma armadura para que a planta fique mais resistente em situações adversas.

“Quando as plantas chegam no campo e encontram temperatura alta ou baixa, falta de água, enfim, uma série de estresses, vão reagir de maneira diferente após passar por esse processo, vão ter um melhor aparato de defesa, sem prejudicar o desenvolvimento delas”, expõe a pesquisadora. 

No mestrado, esse fortalecimento das plantas foi realizado no laboratório. No doutorado, é hora de levar a pesquisa para a prática.

“O meu projeto é fazer com que os produtores tenham um plantio, um monocultivo, e que ao lado eles também tenham árvores. Para o conforto térmico deles e também para melhorar a condição das plantas. Para que, no futuro, eles possam colher sementes, retirar madeira e fazer girar a economia de uma forma sustentável. Então, eu preparo as plantas para que quando o produtor for introduzi-las na área dele, cresçam mais saudáveis”, acrescenta.

O preparo da planta é feito de acordo com o ambiente no qual ela será plantada. “Alteramos as enzimas, as proteínas, o aparato bioquímico para fortalecê-la. Para fazer os tratamentos, eu busco utilizar produtos acessíveis ao produtor, que ele possa utilizar na propriedade dele, tudo para tornar o processo mais econômico e também mais rápido e prático”.

As pesquisadoras e a pesquisa na Agronomia

Thais e Maria Eunice contaram um pouco de suas trajetórias e como seus caminhos as levaram até a Agronomia. Confira:

Quando se fala em agronegócio, a figura do homem impera no imaginário da maioria. No entanto, elas estão cada vez mais inseridas no processo, seja sujando a bota na terra ou focadas nos microscópios dos laboratórios.

As pesquisadoras Thais e Maria Eunice relatam não terem sofrido preconceito por serem mulheres na Agronomia, mas sabem que o caminho até que a realidade seja a mesma para todas ainda é tortuoso.

"uma mulher dentro do ambiente é muito bom, porque ela sempre traz outro olhar sobre aquele assunto”

“Meus orientadores sempre foram homens e sempre me trataram em pé de igualdade. Deixaram que eu mostrasse a força que eu tenho. Fui até um pouco autoritária, porque acredito que devemos nos impor no ambiente para termos um lugar, mas sempre fui respeitada”, completa.

“Eu também tive muita sorte de ter no meu caminho pessoas que possibilitaram que eu conquistasse o meu espaço. Tive orientadores incríveis, que me empoderaram. Não senti dificuldades por ser mulher, mas acredito que isso seja por conta das pessoas que eu encontrei”, assegura Thaís.

Elas estão cada vez mais inseridas no processo

Conseguir obter o reconhecimento por fazer ciência também é um grande desafio. “Algumas pessoas dizem: ‘ah, você só estuda, né?’. Eu respondo ‘não!’. A gente faz pesquisa, a gente muda o mundo, a gente colabora para o surgimento de novas tecnologias. Então, fazemos direta e indiretamente que esse setor tão forte, o agronegócio, esteja sempre crescendo”, defende Maria Eunice.

“As pessoas não entendem porque nossa cara não está no campo… Estamos dentro dos laboratórios, trabalhando, pesquisando, passando noites sem dormir, escrevendo para que as descobertas possam chegar ao conhecimento de todos”, complementa.

“A gente vai obter o título, mas o ganho para a sociedade é grandioso. A nossa descoberta se torna pública, de fácil acesso a todos. Toda a pesquisa é importante. Alguém precisa dar o primeiro passo. Pode ser que não façamos a diferença para o mundo inteiro, mas pelo menos faremos algo pelo próximo pesquisador”, opina Thaís.

Mesmo já sendo possível aplaudir os trabalhos desenvolvidos até agora, as pesquisadoras querem mais: desejam dar continuidade às pesquisas em pós-doutorados — que bom, a Agronomia agradece!

Elas sabem que seus trabalhos contribuem e ainda vão contribuir com muita gente: produtores rurais, colegas de profissão, outros pesquisadores. A ciência é colaborativa, ninguém faz ciência sozinho”, conclui Thaís.

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