Largar tudo, pegar uma bike e encarar estradas desafiadoras com pouco recurso. Dois jovens apaixonados pela natureza nos ensinam um estilo de vida saudável em cima de uma bicicleta.
“Aventureiros e aventureiras!” Eles começariam esse texto assim. Eu começo pedindo para que você esteja preparado para uma viagem virtual que vai fazer exatamente o que o projeto dessa dupla, avançando pelo Brasil sobre bicicletas, propõe: expandir mundos! O interno, principalmente.
Afinal, tem algo que gera mais autoconhecimento, transformação e aprendizado do que a decisão de largar todo o conforto e estabilidade para rodar o Brasil em cima de duas rodas? É o que Luciano Pretzel e Gustavo Medeiros vêm fazendo desde 2018.
A “sementinha” começou a ser plantada em 2012, quando os dois se conheceram na faculdade de Engenharia Ambiental, em Campo Mourão, Paraná. Só aí já houve uma troca de culturas: Gustavo teve uma infância pacata em Sarapuí, interior de São Paulo, enquanto Luciano nasceu e cresceu em um sítio em Marechal Cândido Rondon, oeste do Paraná.
O elo entre eles sempre foi o amor pela natureza. Depois, a bike entrou na soma. Durante a faculdade, eles usavam a bicicleta como meio de transporte até que descobriram que poderiam fazer muito mais com o pedal.
Primeiro rodaram pequenos trajetos na região, depois foi assim que surgiu o grupo “Pernas de Aço”. Aos poucos, foram se aproximando do cicloturismo. Até que, faltando seis meses para concluírem a graduação, rolou um dilema:
“Com as pequenas cicloviagens apareceu uma dualidade. A gente percebeu que as viagens de bicicleta nos mostravam uma realidade que a gente não tinha enxergado até aquele momento na universidade”, conta Luciano.
“A universidade é mais teórica e aquilo pouco alcançava quem realmente precisava. A gente se perguntou se seríamos mesmo felizes seguindo isso, sem ter visto as coisas como realmente são. Decidimos deixar de lado essa carreira que a graduação possibilitaria, para ir atrás de mais vivências”, complementa Gustavo.
“A gente percebeu que as viagens de bicicleta nos mostravam uma realidade que a gente não tinha enxergado até aquele momento na universidade”
A primeira temporada de bicicleta
Terminaram os estudos, se muniram de coragem, colocaram os sonhos na bagagem, subiram na bicicleta e, sem muitos equipamentos profissionais, deram início à primeira temporada do projeto “Expandindo Mundos”, em fevereiro de 2018.
Saíram de Marechal Cândido Rondon com um plano: não ter muitos planos. Rodaram cerca de 4 mil km pelo Sul do Brasil em cima de suas bikes. Havia um primeiro destino, mas os demais foram surgindo com indicações e novos contatos.
A primeira parada foi a Cidade Escola Ayni, em Guaporé, no Rio Grande do Sul, onde participaram do primeiro voluntariado, cheio do que mais gostam: bioconstrução, agrofloresta e fortes amizades
Desapego, desconstrução e colaboração
Se teve algo fundamental para essa jornada acontecer, foi desapego. O novo estilo de vida exigia desconstruir a ideia que tinham do que realmente era primordial para viver: comida, roupa, dinheiro? Quando você se joga no mundo com apenas uma bicicleta e alguns instrumentos, só mesmo com muita colaboração consegue seguir viagem.
Ao longo do caminho, eles encontraram demais o “compartilhamento genuíno”. Vez ou outra, quando não encontravam um bom lugar para acampar, contavam com a bondade de pessoas que abriam suas portas para que eles pudessem dormir, tomar um banho, lavar roupas.
Gente que doava o melhor de si e recebia o melhor dos cicloaventureiros. Isso aconteceu em vários locais, um deles foi Maravilha, Santa Catarina.
“Saímos batendo palmas até que encontramos uma casa com quintal grande, onde moravam uma moça e a filha dela que, de início, ficaram meio desconfiadas com dois estranhos. Mas deixaram a gente montar a barraca e dormir na área da casa. No outro dia, deu tempo de conversarmos melhor, criou-se uma amizade, elas deixaram a máquina livre para gente lavar nossas roupas, tomamos café com elas. Foi incrível”, relata Gustavo.
Nessa aventura de bicicleta pelo mundo, eles se depararam com realidades e culturas diferentes, lugares e pessoas que foram expandindo a visão de mundo da dupla. Cada colaboração recebida reforçava a frase de Antoine de Saint-Exupéry: “Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Uma colaboração mútua e natural, como Gustavo descreve bem:
“Como a gente viaja sem dinheiro, só temos a nós mesmos para doar para aos outros: uma atenção plena para ouvir, para escutar histórias… A gente vê que pode colaborar muito por meio dessa escuta atenciosa. Vivemos numa sociedade em que praticamente ninguém tem tempo para ‘pessoas reais’. E sentimos que essas pessoas tinham essa ânsia de conversar. Ficamos felizes por poder colaborar de alguma forma”
E assim foram nove meses e meio de desafios em estradas, por vezes, muito perigosas. Trechos extensos cheios de obstáculos para se fazer de bicicleta. Ora calor intenso, ora frio e chuva. E histórias a perder de vista acumuladas na bagagem.
“Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.
Segunda temporada do cicloturismo: pausa e recomeço!
De volta a Marechal Cândido Rondon, uma pequena pausa de 4 meses separou a primeira da segunda temporada, esta que começou em maio de 2019 com mais duas integrantes: Isaura e Ana Clara. E com elas, um novo objetivo de compartilhamento pelo caminho: sementes.
“A gente leva sementes crioulas junto com as meninas que tem um projeto muito legal chamado Ciclo-Florescer. São sementes selecionadas há gerações, o que tem de melhor na nossa agricultura, para levarmos para pessoas que possivelmente não teriam acesso”, conta Gustavo.
Os ciclistas pedalaram mais de 4 mil km pelo sul do Brasil
Lá se foram mais nove meses enfrentando os perrengues da estrada em cima da bicicleta e tendo lindas paisagens como recompensa. Quase 4 mil km entre Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Goiás, com vivências para nunca mais esquecer!
E, novamente, o cicloturismo entregou mais um ensinamento: precisamos viver sem criar tantas expectativas. Luciano aprendeu isso tendo que interromper a segunda temporada de bicicleta antes do previsto por causa de dores na coluna que precisavam ser tratadas. Voltou para Marechal Cândido Rondon antes do amigo.
“Quando entrei no ônibus me dei conta. Passou muita coisa na cabeça. Mas mesmo assim me senti um tanto desprendido dessa questão de expectativa. Coloquei na mente que era algo que eu precisava tratar para tentar voltar para a jornada o mais rápido possível”.
Nesse estágio, as demais companheiras também tomaram rumos diferentes. E o Gustavo precisou decidir: encarar ou não o resto do desafio sozinho? E encarou! Mais 700 km pra conta. Sozinho, mas não tanto assim, já que ia colecionando amizades pelo trajeto.
Cicloturismo, terceira temporada?
Dezembro de 2019 marcou o fim da segunda temporada. Gustavo só voltou para São Paulo para matar a saudade da família e logo retornou para encontrar Luciano no Paraná. Não fosse a pandemia, já estariam em cima das bikes novamente dando andamento à terceira temporada de aventuras.
Mas como já tinham aprendido que é preciso viver sem criar muito roteiro, estacionaram a bicicleta por um tempo, o que não tem impedido a dupla de continuar com a essência disso tudo: o compartilhamento de conhecimento.
As vivências de viagem se transformaram em um Curso de Cicloturismo que está ajudando muitos novos aventureiros a se prepararem para essa transformação impactante que é rodar o mundo sem tanta pressa, apreciando cada detalhe do caminho em cima da bike.
Agora, mais experientes, eles pensam em ajeitar a bagagem e preparar a bicicleta para voltar para a estrada no início de 2021, quando a situação pandêmica estiver mais controlada.
Mas até lá, seu novo estilo de vida, o amor pela natureza e por hábitos mais saudáveis continua se propagando pela internet, transformando a vida de milhares de inscritos no canal do YouTube “Expandindo Mundos” e de seguidores do perfil do Instagram @expandindomundos.
Vale a pena seguir e viajar digitalmente por meio das fotos e dos vídeos. Duvido muito você sair dessa viagem, mesmo que virtual, sendo a mesma pessoa de antes.
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